Arte pela arte

Ars per Ars- Arte pela Arte


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Manifesto- Alfredo Vieira

(...)
ainda que eu não possua a medida certa do novo, penso que o que chamam de modernidade na arte, é algo mais antigo do que tenham conhecimento.
Transformar a obra de artistas consagrados, que passaram pelo inferno até alcançarem algo realmente bom, (embora incompreendidos por muitos até hoje) em “releituras” e objetos decorativos, (“coisas” para combinar com o sofá e a cortina!) para ser educado, é algo que realmente abomino.
Talvez meus próprios valores artísticos sejam ultrapassados mas solitariamente ou não, acredito que os mestres do passado diziam mais; Nos tocavam no que há de melhor dentro de nós. Provocavam sentimentos, aguçavam nosso olhar nos tornando mais críticos com relação à sociedade e ao mundo que nos cerca.
A “arte” de hoje nada mais é que o conformismo institucionalizado com o sistema; é a falta do senso crítico, a falta do pensar. Essa suposta “arte decorativa” nada mais é que a apatia e a imbecilidade ante algo importante que está ao alcance de nossas mãos: As rédeas de nossos destinos, ainda que improváveis, e a esperança de um mundo melhor.
Prefiro minha arte “démodée” a me render ao consumismo vazio de padrões e estéticas imediatas. Prefiro ver minha arte, ainda que sem grande expressão e alarde, provocando olhares curiosos e felizes através dos detalhes, a assistir “quadros” pendurados numa sala-vitrine vazia de emoção.
Prefiro ver crianças em fase de explosão criativa “copiando” minha obra em seus desenhos puros, do que instigar a alienação destas mesmas crianças hipnotizadas pelos seus computadores e jogos sanguinários da modernidade.
Prefiro ver minha “obra barata e de conteúdo nostálgico” alegrando a casa dos humildes do que competir com as mega-tvs que decoram lares abastados com a arte televisiva e sem esperança das novelas e telejornais.
Pois a arte não pode ser um sentimento efêmero. Ela é acima de tudo, uma experiência sensorial perene, um coquetel psicológico que nos transforma e nos faz pensar. Ela é e deve ser sempre a visão esperançosa do amanhã. Acho que minha arte não tem um caráter social ou provocativo de fato. Mas em seu valor subjetivo, ela desperta à reflexão e remete-nos à simplicidade da vida, algo esquecido por muitos. Em minhas imagens simbólicas, mostro o quanto o ser humano precisa de atenção, de ajuda, de um afago ou um gesto misericordioso do próximo, sem hipocrisia ou falsa complacência. A arte pictórica deve atingir o coração e as mentes de maneira impactante, como faz tão bem a boa música, sem filtros ou traduções. A arte deve ser o objeto pacífico e transformador das novas gerações, a salvação das mentes e corações das novas gerações, desenvolvida e desempenhada em sua forma plena e pura, sensorial e emocional, longe das demagogias de governos e instituições religiosas, numa evolução gradativa e perene da alma. E deve, acima de tudo, despertar o Belo, a sensibilidade, a simplicidade e a esperança.
Não sei onde vou chegar com isso, mas sei que devo continuar pois é tudo o que penso, faço e acredito.(...)

Alfredo Vieira – artista plástico

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