Arte pela arte

Ars per Ars- Arte pela Arte


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Manifesto- Alfredo Vieira

(...)
ainda que eu não possua a medida certa do novo, penso que o que chamam de modernidade na arte, é algo mais antigo do que tenham conhecimento.
Transformar a obra de artistas consagrados, que passaram pelo inferno até alcançarem algo realmente bom, (embora incompreendidos por muitos até hoje) em “releituras” e objetos decorativos, (“coisas” para combinar com o sofá e a cortina!) para ser educado, é algo que realmente abomino.
Talvez meus próprios valores artísticos sejam ultrapassados mas solitariamente ou não, acredito que os mestres do passado diziam mais; Nos tocavam no que há de melhor dentro de nós. Provocavam sentimentos, aguçavam nosso olhar nos tornando mais críticos com relação à sociedade e ao mundo que nos cerca.
A “arte” de hoje nada mais é que o conformismo institucionalizado com o sistema; é a falta do senso crítico, a falta do pensar. Essa suposta “arte decorativa” nada mais é que a apatia e a imbecilidade ante algo importante que está ao alcance de nossas mãos: As rédeas de nossos destinos, ainda que improváveis, e a esperança de um mundo melhor.
Prefiro minha arte “démodée” a me render ao consumismo vazio de padrões e estéticas imediatas. Prefiro ver minha arte, ainda que sem grande expressão e alarde, provocando olhares curiosos e felizes através dos detalhes, a assistir “quadros” pendurados numa sala-vitrine vazia de emoção.
Prefiro ver crianças em fase de explosão criativa “copiando” minha obra em seus desenhos puros, do que instigar a alienação destas mesmas crianças hipnotizadas pelos seus computadores e jogos sanguinários da modernidade.
Prefiro ver minha “obra barata e de conteúdo nostálgico” alegrando a casa dos humildes do que competir com as mega-tvs que decoram lares abastados com a arte televisiva e sem esperança das novelas e telejornais.
Pois a arte não pode ser um sentimento efêmero. Ela é acima de tudo, uma experiência sensorial perene, um coquetel psicológico que nos transforma e nos faz pensar. Ela é e deve ser sempre a visão esperançosa do amanhã. Acho que minha arte não tem um caráter social ou provocativo de fato. Mas em seu valor subjetivo, ela desperta à reflexão e remete-nos à simplicidade da vida, algo esquecido por muitos. Em minhas imagens simbólicas, mostro o quanto o ser humano precisa de atenção, de ajuda, de um afago ou um gesto misericordioso do próximo, sem hipocrisia ou falsa complacência. A arte pictórica deve atingir o coração e as mentes de maneira impactante, como faz tão bem a boa música, sem filtros ou traduções. A arte deve ser o objeto pacífico e transformador das novas gerações, a salvação das mentes e corações das novas gerações, desenvolvida e desempenhada em sua forma plena e pura, sensorial e emocional, longe das demagogias de governos e instituições religiosas, numa evolução gradativa e perene da alma. E deve, acima de tudo, despertar o Belo, a sensibilidade, a simplicidade e a esperança.
Não sei onde vou chegar com isso, mas sei que devo continuar pois é tudo o que penso, faço e acredito.(...)

Alfredo Vieira – artista plástico

terça-feira, 27 de julho de 2010

Fernando Pessoa - a confusão entre precisar e desejar



Fernando Pessoa - a confusão entre precisar e desejar.O MAL todo do romantismo é a confusão entre o que nos é preciso e o que desejamos. Todos nós precisamos das coisas indispensáveis à vida, à sua conservação e ao seu continuamento; todos nós desejamos uma vida mais perfeita, uma felicidade completa, a realidade dos nossos sonhos...É humano querer o que nos é preciso, e é humano desejar o que não nos é preciso, mas é para nós desejável. O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e sofrer por não ser perfeito como se se sofresse por não ter pão. O mal romântico é este: querer a lua como se houvesse maneira de a obter.
Fernando Pessoa em "O livro do desassossego" - Cia das Letras, p.86.


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Realismo

O Realismo nasceu do Romantismo e surgiu como movimento artístico por volta de 1830 na França, mas na metade do século, ganhou adeptos também na Inglaterra. Entretanto, foi Gustave Courbet o porta-voz e grande divulgador da nova arte que surgia.


[Gustave Courbet, Enterro em Ornans, Musee d'Orsay, Paris,1850 ]

Courbet estava convencido de que deveriam ser descartadas as regras e prescrições dos ateliês e da academia. Sua proposta era a de que o artista deveria deixar as “coisas” e sua aparência se sustentarem por si mesmas, ao contrário do que acontecia na prática acadêmica do séc. XIX, quando o objetivo histórico, a moral, o sentimento ou a “história” da pintura determinavam o aspecto visual das obras. Era a antítese da idealização. E foi o que ele fez em "Enterro em Ornans" que chocou os críticos conservadores no Salão de 1851 e desconcertou até mesmo os liberais.

Eis o desafio que Courbet lançou aos seus contemporâneos: as regras deveriam ser provisórias e não princípios irrevogáveis. Seu realismo residia, de certa forma, no método de pintar cada elemento do quadro meticulosamente a partir da vida. Ao fazer isso obtinham, às vezes, um ilusionismo quase alucinatório. Mas a maneira “realista” de pintar sempre pontuou a História da Pintura, através de seus diversos mestres, desde Da Vinci a Ingres, de Sargent a Hopper, de Alma-Tadema a Vermeer, de Caravaggio a Dali.


Smirk
48X64
Oil on linen, 2009
Alyssa Monks

Nos anos 70, surgiu um movimento artístico nos Estados Unidos, chamado de Hiper-Realismo (ou Fotorrealismo, ou Super-Realismo), durante o auge do “Minimalismo” e da “Arte Conceitual”. Um grupo de pintores talentosíssimos, liderados por Chuck Close e Richard Estes, criaram uma pintura ilusionista, descritiva e figurativa, muitas vezes copiando fotografias em seus mínimos detalhes, num trabalho exaustivo mas extremamente impactante.

Naquela época suas criações foram prestigiadas pelos marchands, colecionadores e público em geral, mas foram rejeitadas por muitos críticos de arte, que as consideravam uma regressão. Com o passar do tempo, entretanto, tornou-se mais fácil perceber as afinidades do hiper-realismo – a aparência impessoal e a preocupação com temas comuns do cotidiano – com movimentos contemporâneos da arte pop e do minimalismo. Por diferentes caminhos, a pintura hiper-realista também atesta o impacto exercido pela fotografia sobre a pintura desde o impressionismo.


Na Ícone
– Escola de Pintura, fomentamos o aprendizado da pintura, influenciados pelos princípios teóricos do Realismo de Courbet, assim como praticamos as técnicas do Hiper-Realismo de Close e Estes. Nosso trabalho é baseado na fotografia e reproduzimos a realidade tal qual ela nos é apresentada num dado momento. Para tal labor, aplicamos muitas regras, técnicas e conceitos desenvolvidos por mim, ao longo destes 30 anos de carreira. Porém, mais do que regras e fórmulas, a pintura é emoção e sentimento, que devem ser estimulados pela prática da observação do mundo que nos cerca.

Admirando cuidadosamente cada nuance de cor, de textura, de forma e luz desta realidade em que vivemos, aprendemos a “congelar” o instante, de maneira que o espectador identifique-se com a obra, e desperte nele aquilo que almejamos: A identificar a Beleza das coisas simples, numa reflexão interior e num resgate do Sublime.

Sobre o autor

Alfredo Vieira, 30 anos de arte, natural de Belo Horizonte. Filho de uma família de artistas, desde criança exercia as artes plásticas em diversos modos como a escultura, pintura, artesanato, modelagem, bem como a música e a poesia. Diversas exposições em Minas, Brasil e Exterior. Morou na Itália onde aperfeiçoou no estilo Hiper-realista de pintura. Autodidata, deseja encontrar o reconhecimento na arte, onde diz estar em franca evolução.
É professor e fundador da Ícone - Escola de Pintura, a 10 anos, uma referência no ensino da pintura realista em Minas Gerais.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Soundtrack- Na Natureza Selvagem

Eddie Vedder
Música - Guaranteed
Soundtrack Filme "Na natureza selvagem"



Trailler do filme "Na Natureza Selvagem"

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Música- Sungha Jung



Sungha Jung é um menino sul-coreano de 13 anos, uma virtuose com o violão nas mãos. Tem ganhado enorme popularidade e sucesso na internet, tocando na viola ‘covers’ inconfundíveis de vários sucessos da música mundial.O you tube mostra vários vídeos deste menino prodígio, com alguns a ultrapassarem a um milhão de visualizações.



Sungha diz que aprendeu vendo o pai a tocar e que normalmente toca as músicas de ouvido. Além de compor, Sungha já é um violonista profissional e seu estilo de tocar dedilhado impressiona, não só pela sua idade, mas igualmente pela perfeita execução.








terça-feira, 20 de julho de 2010

Poesia- Velho Artista


Study of an Old Man in Profile, c. 1630
Aproximadamente 20 x 25 cm or 8" x 10", óleo sobre tela
Rembrandt van Rijn (1606-69)

Velho Artista


Os sonhos se dissolveram,
Dissipararam-se
Estranho inimigo- tempo

Um cavalete carcomido
A paleta com tintas retorcidas
Antigas...
Como um delírio
De um Van Gogh

Fragmentos

As mãos definhadas
Qual pintura craquelada
Relembra as obras de outrora

Não se contém, ao tocar
Novamente a têz do pincel
E o fluir da inspiração palpitar
Por sob sua carne

Como em um tempo, ouve
Cada cor chamar-lhe pelo nome
No instante de serem
Descansadas brevemente na tela
E num milagre ou ventura
Se misturar - complementar
Em sua retina... mutar

Preencher traços, pontos
Permitir limite ao claro-escuro
Às vezes fudí-los
E oferecer vida ao inanimado
conceder vida a si.

Leonardo Silveira

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Saramago

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

domingo, 18 de julho de 2010

Paulo Freire - Sonho e pesadelo

Certa vez, numa reportagem de televisão sobre bóias-frias no interior de São Paulo, a repórter perguntou a um adolescente camponês:

- Você costuma sonhar?

- Não. Tenho só pesadelo.

O fundamental na resposta foi a compreensão fatalista, imobilista. A amargura da existência daquele adolescente era tão profunda que a presença dele no mundo virara um pesadelo uma experiência na qual era impossível sonhar. "Tenho só pesadelo" repetiu, como se insistisse em que a repórter jamais olvidasse o fato. Ele não via futuro para si.

Sem um vislumbre de amanhã, é impossível a esperança. O passado não gera esperança, a não ser quando se recordam momentos de rebeldia, de ousadia, de luta. O passado entendido como imobilização do que foi, gera saudade, pior, nostalgia, que anula o amanhã.

Quase sempre as situações concretas de opressão reduzem o tempo histórico dos oprimidos a um eterno presente de desesperança e acomodação. O neto oprimido repete o sofrimento do avô. É o que ocorre com as maiorias nordestinas deste país. Existencialmente cansadas, historicamente anestesiadas.

Paulo Freire em À Sombra desta Mangueira - Editora Olho Dágua, p. 31.

Pascal Mercier - como vemos as pessoas

Não vemos as pessoas como vemos casas, árvores ou estrelas. Vemo-las na expectativa de as encontrarmos de uma determinada maneira, transformando-as, assim, em um pedaço da própria interioridade.

A força da imaginação forma-as de maneira que estejam de acordo com os próprios desejos e as próprias esperanças, mas também de modo a que nelas se confirmem os nosso próprios temores e preconceitos.

Na verdade, nem sequer alcançamos os contornos exteriores do outro de maneira segura e imparcial. Ao longo do percurso, o olhar é desviado e turvado por todos os desejos e fantasias que fazem de nós a pessoa especial e insubstituível que somos.

Pascal Mercier em Trem Noturno para Lisboa - Editora Record, p. 94

sábado, 17 de julho de 2010

Vinicius de Moraes - o poeta

Vinicius de Moraes - o poeta

Para o poeta a vida é eterna. Ele vive no vórtice dessas contradições, no eixo desses contrários. Não viva ele assim, e transformar-se-á, certamente, dentro de um mundo em carne viva, num jardinista, num floricultor de espécimes que, por mais belos sejam, pertencem antes a estufas que ao homem que vive nas ruas e nas casas...


E não é outra a razão pela qual a poesia tem dado à história , dentro dos quadros das artes, o maior, de longe o maior número de santos e de mártires. Pois, individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca de absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre das artes, e um elemento de pertubação da ordem dentro da sociedade tal como está constituída.

Vinicius de Moraes em Sobre Poesia, Ed. Nova Aguilar, p. 663

Alexandre Dumas - Esperança e decepção

Alexandre Dumas - Esperança e decepção


O coração se despedaça quando, após ter se dilatado exageradamente pelo bafejo quente da esperança, ele retorna e se encerra na fria realidade.


Alexandre Dumas, em O Conde de Monte Cristo, Zahar Editores, Tomo I, p. 266

T.S. Eliot - onde a vida?

T.S. Eliot - onde a vida?


A Águia paira sobre os píncaros do Céu,
O Caçador com seus cães rastreia-lhe o trajeto,
Ó perene revolução de estrelas consteladas,
Ó perene recorrência de estações determinadas,
Ó mundo de primavera e outono, nascimento e morte!
O infinito ciclo da idéia e da ação,
Infinita invenção, experiência infinita,
Traz o conhecimento do vôo, mas não o do repouso;
O conhecimento da fala, mas não o do silêncio;
O conhecimento das palavras e a ignorância do Verbo.
Todo o nosso conhecimento nos aproxima da ignorância,
Toda a nossa ignorância nos avizinha da morte,
Mas a iminência da morte não nos acerca de DEUS.
Onde a vida que perdemos quando vivos?
Onde a sabedoria que perdemos no saber?
Onde o conhecimento que perdemos na informação?
Os ciclos do Céu em vinte séculos
Afastaram-nos de DEUS e nos acercaram do Pó.

T. S. Eliot em Coros de "A Rocha" - ARX, volume 1, p.289.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Livros que li e recomendo

Livros que li e recomendo:

Cartas a Théo - Vincent Van Gogh



Os Meninos da rua Paulo- Ferenc Molnar
Divina Comédia- Dante Alighieri
História da pintura- Konemann
Surpreendido pela alegria- C. S. Lewis
O Fim da históia da arte- Hans Belting
O Deserto dos tártaros- Dino Buzzati



Cartas um jovem poeta- Rainer Maria Rilke
Demian- Hermann Hesse
Após o fim da arte- Arthur Danto
Vermeer- Norbert Schneider
Hopper- Ivo Kanzfelder
Ensaio sobre a cegueira- José Saramago

O Desespero Humano- Soren Kierkegaard
Metafísica do Amor- Arthur Schopenhauer
Tuareg- Alberto Vazquez-Figueroa



terça-feira, 13 de julho de 2010

Música- Sting (symphonicities)



Será lançado hoje (13/07) na América do Norte o novo álbum de STING, chamado “Symphonicities”. O disco se trata de uma coletânea com grandes sucessos da carreira solo e também do POLICE, todas em versões orquestradas.
Este novo trabalho de estúdio traz algumas das canções mais aclamadas da carreira de Sting, com uma concepção de arranjos sinfônicos. Os inspirados novos arranjos ficaram a cargo de um time de fazer inveja a historiadores musicais; comprove: Jorge Calandrelli, David Hartley, Michel Legrand, Rob Mathes, Vince Mendoza, Steven Mercurio, Bill Ross, Robert Sadin, e Nicola Tescari. Além de unanimidades como “Every Little Thing She Does Is Magic”; o disco inclui outras coisas da época do Police como: “Roxanne” e “Next To You” e de sua carreira solo, como “Englishman in New York”, “I Burn for You”, “Why Should I Cry for You”, “She’s Too Good For Me”, entre outras. Symphonicities foi produzido por Rob Mathes e o próprio Sting, mixado por Elliot Scheiner (Steely Dan, Fleetwood Mac) e Claudius Mittendorfer (Interpol, Franz Ferdinand). Sting chamou um grupo convencional composto por Dominic Miller (guitarra), David Cossin (multi percussionista), Jo Lawry (vocal) e Ira Coleman (baixo). O resultado surpreende, longe do pastiche cafona que os arranjos orquestrais costumam fazer no universo pop; a experiência dos envolvidos contou e sem dúvida é um show que deverá agradar muitas plateias.

Confira o repertório de “Symphonicities”:
01. "Next To You"
02. "Englishman In New York"
03. "Every Little Thing She Does Is Magic"
04. "I Hung My Head"
05. "You Will Be My Ain True Love"
06. "Roxanne"
07. "When We Dance"
08. "The End Of The Game"
09. "I Burn For You"
10. "We Work The Black Seam"
11. "She's Too Good For Me"
12. "The Pirate's Bride"

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Soren Kierkegaard

"Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo. E aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si próprio."


Søren Kierkegaard
- Filósofo dinamarquês

Música- Morel Brendel

More Brendel: Schubert Op. 90/3


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sábado, 10 de julho de 2010

Poema

Beleza que faz a vida irresistível


O belo se esconde no evidente. Imiscui-se por toda a parte. Ora claro, ora escuro, tinge a textura do cotidiano. Muitas vezes camuflado no óbvio, pega o coração de surpresa. Olhos displicentes correm o risco de não captar toda a formosura que permeia a vida.

Um coração desolado não vê o inefável porque basta um instante, um hiato, um risco no céu, para sumir o que pode encher a vida de viço. Sempre alguma lindeza esquecida espera ser descoberta no fundo do pântano, na escarpa da rocha, no rosto crispado da viúva, no riso frouxo do adolescente.

Em cada alvorada renasce um anseio renovado pelo belo. O orvalho aguça o desejo de alimentar a alma com os diferentes matizes da mata. Quando o dia se alonga, temos fome; uma fome pelo eterno. E a noite traz a bruma leve do Espírito que faz do descanso o tempo dos sonhos.

De repente, sempre de repente, no dia-a-dia, está um anelo pela nuança da poesia; nuança que transfigura as letras em recado divino. O corpo pede melodia para deixar o coração estranhamente sereno; e da calma, vem a excitação que converte o lamento em vontade de pular de alegria. Existe, sim, uma beleza que torna a vida irresistível.

O belo está sempre por perto e tem poder. Fascinante, inspira o poeta. Trasforma o leigo em criador fecundo, incorpora contentamento no triste, sensibiliza o bruto,muda o apático em trovador, leva o tosco a bailar em ritmos imponderáveis e sensibiliza o cético para que perceba a eternidade na realidade crua.

O belo é divino.

Ricardo Gondim

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fernando Pessoa

O FIM DA ARTE inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar. Mas a arte média, se tem por fim principal o elevar, tem também que agradar, tanto quanto possa; e a arte superior, se tem por fim libertar, tem também que agradar e que elevar, tanto quanto possa ser [...]

Elevar e libertar não são a mesma coisa. Elevando-nos, sentimo-nos superiores a nós mesmos, porém por afastamento de nós. Libertando-nos, sentimo-nos superiores em nós mesmos, senhores, e não emigrados, de nós. A libertação é uma elevação para dentro, como se crescêssemos em vez de nos alçarmos.

Fernando Pessoa

Pintura- Vermeer

Johannes Vermeer (Delft, 31 de Outubro de 1632 - Delft, 15 de Dezembro de 1675) foi um pintor holandês, que também é conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer.

Vermeer viveu toda a sua vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha (Oude Kerk) de Delft.



É o segundo pintor holandês mais famoso e importante do século XVII (um período que é conhecido por Idade de Ouro Holandesa, devido às espantosas conquistas culturais e artísticas do país nessa época), depois de Rembrandt. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhante com o uso da luz.

A sua arte só foi reconhecida depois de sua morte.
Casou-se em 1653 com Catharina Bolenes com quem teve 15 filhos, dos quais 4 morreram ainda pequenos.
Em 1663 entrou para a guilda de São Lucas, que presidiu em 1662-1663 e 1670-1671. Das suas 35 telas conhecidas, só duas são assinadas: "A alcoviteira" (1656) e "O astrônomo" (1668).



Os temas que aborda são os dos seus contemporâneos Pieter de Hooch, Terborch e Metsu: interiores com uma ou duas figuras e paisagens urbanas.
Depois da sua morte (15 de Dezembro de 1675), Vermeer foi esquecido. Os seus quadros foram vendidos com a assinatura de outro pintor para lhe aumentar o valor. No princípio do século XX havia muitos rumores de que ainda existiriam quadros de Vermeer por descobrir. Hoje ainda se conhecem muitos poucos quadros de Vermeer. Só ficaram aproximadamente 35 a 40 trabalhos atribuídos ao pintor holandês.
Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhante uso da luz.

Nos seus quadros observa-se a predominância de alguns tons nas pinturas (amarelo, cinza, azul), a presença de poucas pessoas e ambiente doméstico. Retrata, basicamente, o quotidiano dos burgueses ("Carta de Amor") e pessoas como serventes, empregados e mensageiros ligados a eles (“A Leiteira”).
Nos jogos de luz e sombra vê-se uma certa influência italiana. A composição é geométrica, com elementos simetricamente equilibrados.



Os elementos típicos da obra de Vermeer já apontam em “Moça lendo uma carta”(1657): o quadro fechado, a luz que entra pela janela, os tapetes orientais e as cortinas luxuosas. A luz é usada com mestria para realçar uma expressão, aprofundar ou criar uma atmosfera. Em “A leiteira” (1656-1660), utiliza fusões de azul e amarelo, objectos pontilhados de dourado. Vermeer pode ser considerado um óptimo fotógrafo, uma vez que pinta as suas obras como se estivesse invisível no ambiente da peça retratada. Ele consegue aproximar-se do objecto da pintura sem ser notado, conseguindo dessa forma, uma ampla naturalidade por parte dos elementos que foram pintados.

Outra qualidade é a captura exacta das emoções dos retratados. Basta olhar para suas feições e já é possível distinguir entre surpresa, concentração, desejo, alegria, tédio etc. O jogo de luz e sombra, aliado a utilização das cores correctas, têm papel fundamental para a caracterização das emoções vivenciadas no quadro, gerando uma grande empatia por aquilo retratado.



Muitos afirmam que Vermeer usava câmeras obscuras para pintar, as antecessoras da máquinas fotográficas. Por exemplo, na pintura "Vista de Delft", a vista panorâmica obtida é por vezes creditada ao uso de uma câmera. As especulações começaram em 1891, com o quadro "Soldado e Garota Rindo", no qual nota-se a perspectiva "fotográfica". Também foram feitos espécies de "raio-x" em suas obras, que permitiram saber que antes da pintura não haviam linha guias nem rascunhos, mas sim outra imagem igual porém em preto e branco.

Cronologia das obras de Vermeer

-Cristo na casa de Marta e Maria (1654-1655
-A alcoviteira (1656)
-Jovem adormecida (1657)
-Oficial e moça sorridente (1658)
-Leitora à janela (1657-1659)
-A ruela (1657-1661)
-A leiteira (1658-1660)
-Homem, mulher e vinho (1658-1661)
-Moça com copo de vinho (1659-1660)
-Vista de Delft (1660-1661)
-A aula de música (1662)
-Moça com pichel de água (1662-1663)
-A rendeira (1664)
-Mulher com colar de pérolas (1664)
-Mulher de azul, lendo uma carta (after 1664)
-Mulher segurando uma balança (1665)
-Moça com brinco de pérola (1665-1666)
-O concerto (1665-1666)
-Moça com flauta (1665-1670)
-Alegoria da pintura (1666-1667)
-Retrato de uma jovem (1667-1668)
-O astrónomo (1668)
-O geógrafo (1669)
-Mulher tocando guitarra (1669-1672)
-A carta de amor (1670)
-Senhora escrevendo carta com sua criada (1670)
-Senhora diante do virginal (1670-1673)
-Senhora sentada ao virginal (1672)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poesia- Utopia da maré

Utopia da Maré

Encontro-me num navio
Deserto, intitulado ilha.
Contemplo nas adjacências
A tradução da minh'alma.

Sem porto nem vela
Firmamento longínquo
Recluso, talvez para sempre
Nesta decadente e errante nau.

A geometria dos movimentos
Nulas, em seu vértice
Gira o mundo, gira o nada
Estática do querer
Ferindo meu ser.

Anseio por vestígios de áureos dias
Objetos perdidos nas areias do tempo,
Fragmentos maculados
Pelas salgadas àguas da ilusão.

Por hora, somente sinto
Na boca, salobre fel
E nos olhos, a amarga melancolia
De paisagem muda, imóvel.

Vislumbro um mar de calmaria
Sobre turvas emoções-oceano
Guia sobre a linha do horizonte
Afogo meus pensamentos desconexos.

Meu coração- pérola do desejo
Encoberta está;
Involucro de dor
Busco a luz na umbra profundidade
Imerso na gélida
Alma do poeta,
trovador aspirante
Náufrago do amor.

Ouço o cântico das sereias
Irresistível chamado,
Ao degredo eterno da escuridão
Convite silencioso das marés;
Âncora pendente
Permeada de vozes inauditas
Nos recifes da solidão.

Soletro estrelas
Em preces veladas
Mergulhado na aura da lucidez,
Quem sabe a maré
Trará resquícios de outrora?...
...indícios de vida em renascença.


(Leonardo Silveira- Alfredo Vieira)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Poesia- Rainer Maria Rilke

O Solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo
do coração e eu estarei à borda:
Onde não há nada, ainda acorda
o indizível, a dor, de novo o mundo.

Ainda uma coisa, só, no imenso mar
das coisas, e uma luz depois do escuro
um rosto extremo do desejo obscuro
exilado em um nunca-apazigar,

Ainda um rosto de pedra, que só sente
a gravidade interna, de tão denso:
as distancias que o distinguem lentamente
tornam seu jubilo ainda mais intenso.

Rainer Maria Rilke

terça-feira, 6 de julho de 2010

Literatura- T.S. Eliot - onde a vida?

A Águia paira sobre os píncaros do Céu,
O Caçador com seus cães rastreia-lhe o trajeto,
Ó perene revolução de estrelas consteladas,
Ó perene recorrência de estações determinadas,
Ó mundo de primavera e outono, nascimento e morte!
O infinito ciclo da idéia e da ação,
Infinita invenção, experiência infinita,
Traz o conhecimento do vôo, mas não o do repouso;
O conhecimento da fala, mas não o do silêncio;
O conhecimento das palavras e a ignorância do Verbo.
Todo o nosso conhecimento nos aproxima da ignorância,
Toda a nossa ignorância nos avizinha da morte,
Mas a iminência da morte não nos acerca de DEUS.
Onde a vida que perdemos quando vivos?
Onde a sabedoria que perdemos no saber?
Onde o conhecimento que perdemos na informação?
Os ciclos do Céu em vinte séculos
Afastaram-nos de DEUS e nos acercaram do Pó.

T. S. Eliot em Coros de "A Rocha" - ARX, volume 1, p.289.

Literatura- Alexandre Dumas / Felicidade

Não existe nem felicidade nem infelicidade neste mundo, existe a comparação de uma com a outra, só isso.

Apenas aquele que atrevessou o extremo infortúnio está apto a sentir a extrema felicidade. É preciso ter desejado morrer... para saber como é bom viver.

Portanto, vivam e sejam felizes, filhos diletos do meu coração, e nunca esqueçam de que, até o dia em que Deus dignar-se a desvelar o futuro para o homem, toda a sabedoria estará nestas duas palavras: Esperar e ter esperança.

Edmond Dantès, o Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas, Zahar Editores, p. 1369.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Na natureza selvagem (into the wild)


Na Natureza Selvagem (Into the wild) de 2007 do diretor Sean Penn é um filmes daqueles ficam na memória e nos marcam. O filme de fotografia impecável nos leva ao topor à medida que as belas imagens vai passando pela nossa retina e nos impacta ao descobrirmos que assim como o personagem principal também temos vontade de escapar, algumas vezes, da sociedade consumista que vivemos e perecemos. Contudo, mesmo que tenhamos pavor das pessoas que vivem nessa sociedade e consomem desesperadamente, são justamente as pessoas (incluindo estas, talvez) que façam a vida ter sentido. O personagem principal um jovem recém-formado em um caminho de auto-conhecimento, de auto-determinação e de busca por uma vida mais “selvagem” descobre nessa viagem que o mais bonito está na Natureza, na nossa capacidade de sobrevivermos por nossa conta, sem supérfluos ou luxos ao nosso redor mas que, paralelo a isso, não é possível viver feliz sem compartilhar o que sabemos e o que vivemos.

A HISTÓRIA: baseado no livro homônimo, do jornalista Jon Krakauer, que conta a história verídica de Christopher McCandless, um jovem recém-formado que se aventura pelos Estados Unidos até chegar ao inóspito Alasca. Mas, na verdade não é uma viagem comum, é uma aventura de descoberta pessoal e de busca pela vida fora da sociedade consumista. O filme começa com os pais dele, Billie (Marcia Gay) e Walt ( William Hurt) acordando em uma noite depois que ela sonha com o filho “desaparecido”. Em seguida aparece o texto de uma carta escrita por Christopher para o seu amigo Wayne Westerberg (Vince Vaughn), contando de sua chegada a Fairbanks e de como ele estava preparado para ficar um bom tempo longe da civilização. A partir do momento em que ele encontra um “ônibus mágico” abandonado no meio das montanhas, passamos a acompanhar a sua trajetória em retrospectiva, desde que ele se formou na universidade e resolveu abandonar tudo para viver da maneira que acreditava ser a mais correta.
O filme retrata a evolução de um ser humano (na vida adulta) em busca da verdade, do amor, da liberdade.



Merecia um capítulo a parte a trilha sonora de Into the Wild. Que trabalho maravilhoso o de Eddie Verder ( vocalista da banda Pearl Jam) neste filme! Ele realmente dá outro nível de beleza e de compreensão da história com suas composições. Ele ganhou ontem o Globo de Ouro pela canção Guaranteed.

Into the Wild foi indicado para 18 prêmios e ganhou 07– entre elas a de melhor música para Guaranteed, de Eddie Vedder, no Globo de Ouro; melhor ator para Emile Hirsch no Festival de Cinema de Mill Valley; melhor atuação masculina para Emile Hirsch pelo National Board of Review (associação de críticos norte-americanos); diretor do ano para Sean Penn no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs; prêmio do júri para Sean Penn, William Pohland e Art Linson no Festival de Cinema de Roma; e prêmio da audiência como Melhor Filme Estrangeiro no Festival Internacional de Cinema de São Paulo.

O melhor filme de 2007- Nota 9,7.

Leonardo Silveira.